Viviane e Tito

Toda mãe é corajosa.
Gerar é entregar o seu corpo ao desconhecido, sem ter controle das consequências. Gerar é confiar no mistério, é ver seu corpo se transformando dia após dia e acreditar que no fim dará tudo certo. Gerar é saber que o fim será um novo começo e, mesmo sem saber como será esse novo caminho, ter a certeza de que será melhor. Gerar é amar-se muitas vezes, mas é rejeitar-se algumas outras. É olhar no espelho e saber que aquele corpo não será mais o mesmo, pois suas células terão a memória do “criar vida”. É olhar no espelho e ver o rosto vívido de uma mulher que nunca mais será a mesma.
Toda mãe é corajosa.
Não há como parir sem marcas. Sempre há cicatrizes, independente da via de parto. As cicatrizes mais profundas são invisíveis aos olhos. Toda mulher morre de parto. Parir significa a morte de uma mulher e nascimento de outra. É um evento de vida e ressurreição. Parir é confiar que o corpo que gerou pode passar pelo processo de trazer vida ao mundo e recuperar-se plenamente.
Toda mãe é corajosa.
Amamentar é ter a certeza de que o corpo que gerou e pariu é capaz de produzir o alimento perfeito, único e inigualável. É confiar que, apesar dos fantasmas que flutuam das bocas alheias para assombrar a nossa mente, somos capazes de nutrir na medida exata. Amamentar é derramar vida e unção do próprio seio.
Toda mãe é corajosa.
Nem toda mulher entende que ser mãe é revestir-se do poder inexplicável que lhe foi concedido pela simples graça de ser mulher. Ser mãe é ter coragem de viver um dia após o outro, sabendo que os dias de lutas serão refrigerados por momentos de glória e que mesmo os dias de glória terão momentos de lutas.
Toda mãe é corajosa.
Tornar-se mãe é mergulhar no verdadeiro incerto. É deixar-se morrer e renascer. É entregar-se voluntariamente à dor e ainda assim ser feliz.
Toda mãe é corajosa, e, ainda que não seja, em algum momento há de se tornar, porque não se pode ser mãe sem sentir dor. Sempre há uma dor. Mulheres tornam-se também uma mãe em momentos diferentes. Não é no gerar, nem no parir, nem no amamentar, tão pouco no criar. Quando finalmente se reveste de coragem uma mulher pode se dizer mãe, porque ser mãe requer, antes de tudo, coragem, ainda que cercada de medos.
Viviane Sobrinho, mãe de Tito.